Um Guia Prático e Detalhado da Análise de Sedimentoscopia na Urina Tipo 1

Tópicos do Artigo:

  1. O que é a Sedimentoscopia?
  2. Da Coleta ao Processamento da Amostra
  3. Como Utilizar o Microscópio
  4. Principais Elementos

Você já se perguntou o que realmente está por trás de um exame de urina comum, aquele “tipo 1” ou EAS (Elementos Anormais do Sedimento)? A parte química, com os famosos fitinhas, é importante, mas é na etapa seguinte que a verdadeira investigação acontece. Estou falando da sedimentoscopia, um exame fascinante que coloca uma gota de urina sob o microscópio e revela um mundo inteiro de informações sobre a saúde renal e do trato urinário. Se você é estudante da área da saúde, técnico de laboratório iniciante ou simplesmente uma pessoa curiosa sobre o próprio corpo, este artigo vai guiar você, de forma conversacional e prática, pelos detalhes de como realizar essa análise e interpretar seus achados mais comuns.

O que é a Sedimentoscopia?

A sedimentoscopia é a análise microscópica do sedimento urinário. Após a coleta da urina (idealmente a primeira da manhã, o famoso “jato médio”), ela passa por um processo de centrifugação. Esse passo é fundamental: ele concentra os elementos sólidos que estão suspensos na urina no fundo do tubo. O sobrenadante (a parte líquida de cima) é descartado, e o pequeno “tampão” de sedimento restante é colocado em uma lâmina para observação. É aí que a mágica acontece. É nesse momento que vamos buscar e quantificar elementos-chave como leucócitoshemáciascélulas epiteliaisbactérias e estruturas muito específicas como os cilindros. Cada um desses elementos conta uma parte da história. Enquanto um aumento de leucócitos pode sinalizar uma infecção, a presença de certos tipos de cilindros pode nos levar diretamente a um problema nos rins. A centrifugação adequada é, portanto, a base para uma leitura confiável.

FONTE

Da Coleta ao Processamento da Amostra

Antes mesmo de ligar o microscópio, o sucesso da análise depende de etapas críticas. A coleta deve ser feita em recipiente estéril, e a urina precisa ser processada preferencialmente em até duas horas. Por quê? Porque se deixarmos em repouso por muito tempo, as células se degradam, as bactérias se multiplicam absurdamente, e cristais podem se formar, mascarando ou criando achados falsos. A centrifugação deve seguir parâmetros padronizados: geralmente, usamos uma velocidade e tempo específicos (como 1.500 a 2.000 rpm por 10 minutos) para que a força aplicada seja suficiente para sedimentar os elementos importantes, sem destruí-los. Após a centrifugação, a técnica de descarte do sobrenadante deve ser suave e precisa (derramamos aproximadamente 9mL, deixando 1mL contendo o sedimento). Um erro comum é derramar tudo ou não homogeneizar bem o sedimento antes de colocar na lâmina (não se esqueça de homogeneizar o 1mL com sedimento!) , o que leva a uma distribuição irregular das hemácias e leucócitos, comprometendo a contagem. Lembre-se: um trabalho bem feito no banco de preparação economiza tempo e dor de cabeça na análise microscópica.

tratado-de-fisiologia-medica-guyton-e-hall-biomedicina-online
1 Recomendação
Tratado de Fisiologia Médica – Guyton & Hall – 14° Edição – Editora Guanabara Koogan
  • Tratado de Fisiologia Médica chega à sua 14ª edição totalmente atualizada e revisada, incorporando os mais recentes avanços da fisiologia.
2 Recomendação
Fisiologia Humana: Uma Abordagem Integrada – Dee Silverthorn – 7° Edição – Editora Artmed
  • Com conteúdo atualizado e recursos visuais aprimorados, este livro oferece uma base sólida em fisiologia, destacando os principais sistemas do organismo com clareza e profundidade científica.

Como Utilizar o Microscópio

Agora, com a lâmina preparada e a lamínula posicionada (evitando bolhas de ar!), acendemos a fonte de luz do microscópio. Começamos com uma pequena ampliação (como 10x) para uma visão geral e para localizar a área da lâmina onde o material está melhor distribuído. Depois, partimos para o aumento de 40x (objetiva de alta seca, sem usar óleo de imersão ainda), que é a nossa “zona de conforto” para a contagem e identificação da maioria dos elementos. A iluminação (diafragma) deve estar ajustada para um contraste ideal – nem muito claro a ponto de “lavar” as estruturas, nem tão escuro que crie sombras. A varredura sistemática é crucial: não fique apenas no meio da lâmina. Observe várias áreas, especialmente nas bordas da lamínula, onde às vezes os cilindros se acumulam. Para uma contagem semiquantitativa padronizada, contamos o número de elementos por campo microscópico (por exemplo, leucócitos: 10-20 por campo = +). É um trabalho de paciência e atenção aos detalhes.

FONTE

Principais Elementos

  • Leucócitos: Glóbulos brancos, células de defesa do sistema imunológico. Sua presença em quantidade elevada indica inflamação ou infecção no trato urinário (rins, ureteres, bexiga ou uretra). Em condições normais, poucos podem aparecer.
  • Hemácias: Glóbulos vermelhos, responsáveis pelo transporte de oxigênio. Sua presença é chamada de hematúria, podendo ter relação com uma origem renal (hemácias dismórficas) e origem não-renal (hemácias intactas).
  • Células Epiteliais: Células de descamação do revestimento (epitélio) de todo o trato urinário. Se escamosas, podem sugerir contaminação da amostra, se transicionais, podem sugerir inflamação ou irritação local.
  • Bactérias: Microorganismos procarióticos. Se estiverem em grande quantidade, pode sugerir infecção no trato urinário (ITU). Se a amostra não estiver fresca e a quantidade de bactérias for pequena, provavelmente a amostra foi contaminada.
  • Cilindros: Molde proteico formado dentro dos túbulos renais. São sinais diretos de atividade renal, pois só se formam dentro dos rins. Dependendo do tipo de cilindro, pode indicar alguns problemas, como inflamação renal, sangramento no glomérulo, doença renal crônica, ou também podem surgir após realizar exercícios ou se o paciente estiver desidratado.
  • Cristais: A presença de cristais depende do pH da urina, da concentração e da temperatura. Muitos são inerentes (sem significado patológico), mas alguns podem estar associados a cálculos renais.

Referências Bibliográficas:

  1. HALL, J. E.; HALL, M. E. Guyton and Hall Textbook of Medical Physiology. 14. ed. [s.l.] Elsevier, 2021.
  2. DINES, C. Imagens de Microscopia de Urinálise. Disponível em: <https://biomedicinafacil.blogspot.com/2008/02/imagens-de-microscopia-de-urinlise.html>. Acesso em: 10 dez. 2025.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima