Ordem dos Tubos para Coleta de Sangue: Guia Completo e Aplicável para Profissionais da Saúde

Tópicos do Artigo:

  1. A Base Científica da Sequência dos Tubos
  2. Desvendando a Sequência Universal: Um Passo a Passo Estratégico
    • O Primeiro da Fila: Hemoculturas e Tubos para Sorologia
    • O Ponto de Atenção: Tubos com Anticoagulante Citrato
    • Entre o Azul e o Lilás: Os Demais Tubos
    • O Fechamento com EDTA: Hematologia e Imuno-hematologia
  3. Erros de Coleta e Seu Impacto nos Resultados
  4. A Integração entre Coleta e Laboratório: Um Ciclo de Qualidade

Vamos conversar sobre um daqueles procedimentos que, à primeira vista, parece pura burocracia técnica, mas que na prática clínica é um dos pilares da confiabilidade diagnóstica: a ordem dos tubos para coleta de sangue.

Se você é técnico de enfermagem, biomédico, farmacêutico ou estudante da área da saúde, sabe que essa sequência aparentemente rígida tem motivos profundos e científicos. Ignorá-la não é apenas “seguir um protocolo chato”; é arriscar resultados alterados, diagnósticos equivocados e, em última instância, o bem-estar do paciente. Neste artigo, vamos além da simples listagem de cores. Vamos desvendar o “porquê” de cada passo, oferecer dicas para situações complexas e reforçar como a escolha correta do anticoagulante e da ordem dos tubos são indissociáveis para o sucesso da análise.

A Base Científica da Sequência dos Tubos

A primeira grande falácia a ser derrubada é a de que a ordem é arbitrária ou baseada apenas em conveniência. Cada tubo, identificado por sua tampa colorida, contém aditivos específicos projetados para preservar a integridade da amostra para um determinado grupo de testes. O grande vilão da contaminação cruzada é o anticoagulante EDTA (presente nos tubos de tampa lilás ou rosa), seguido de perto pelo citrato de sódio (tampa azul) e pela gel separadora (tampa amarela ou vermelha com gel). Se coletarmos primeiro um tubo com EDTA e, com a mesma agulha, puxarmos o tubo para coagulação, vestígios do anticoagulante podem inativar a cascata de coagulação no segundo tubo, tornando inviável a realização de um coagulograma, por exemplo. Portanto, a ordem é, antes de tudo, uma estratégia de controle de qualidade que começa no ponto de cuidado.

FONTE

Desvendando a Sequência Universal: Um Passo a Passo Estratégico

A sequência mais amplamente aceita e recomendada por organizações como a CLSI (Clinical and Laboratory Standards Institute) prioriza a coleta dos tubos que devem permanecer estéreis ou livres de qualquer contaminante, seguidos daqueles com aditivos. Vamos dissecar cada um, com suas nuances e razões.

O Primeiro da Fila: Hemoculturas e Tubos para Sorologia

Se o paciente necessita de hemoculturas, estas são sempre a prioridade absoluta. A razão é óbvia: precisamos capturar os microrganismos circulantes sem nenhuma contaminação por aditivos químicos de outros tubos. Em seguida, vem o tubo de tampa vermelha (sem aditivos) ou o tubo com gel separador (tampa vermelha/amarela). Este é o tubo para bioquímica sérica, sorologias e marcadores sorológicos. Coletá-lo primeiro, após as hemoculturas, garante um soro puro, essencial para dosagens hormonais precisas e detecção de anticorpos.

fundamentos-em-hematologia-hoffbrand-biomedicina-online-livro-300x300
1 Recomendação
Fundamentos em Hematologia – Hoffbrand & Moss – 7° Edição – Editora Artmed
  • A 7ª edição de Fundamentos em Hematologia traz os últimos avanços em genética e tratamento de doenças do sangue, com novos diagramas e resumos.
2 Recomendação
Tratado de Hematologia – Vanderson Rocha – 2° edição – Editora Atheneu
  • Descubra o Tratado de Hematologia mais completo e atualizado do mercado. Em sua segunda edição, esta obra de referência foi totalmente revisada, reescrita e ampliada.

O Ponto de Atenção: Tubos com Anticoagulante Citrato

Aqui chegamos a um dos pontos mais críticos. O tubo de tampa azul clara, contendo citrato de sódio a 3,2%, é utilizado para os testes de coagulação (TAP/TTPA, entre outros). A proporção entre o sangue e o anticoagulante neste tubo é rigorosamente calibrada (9:1). Se o tubo não for preenchido completamente, o excesso de citrato interfere drasticamente nos resultados, podendo falsamente prolongar os tempos de coagulação. Por isso, quando se utiliza o sistema a vácuo, é fundamental que o tubo azul preencha até a marca de vácuo. A coleta manual com seringa exige ainda mais cuidado na transferência. A correta ordem dos tubos coloca o azul logo após o tubo seco, antes de outros tubos com aditivos mais “agressivos”, como o EDTA.

Entre o Azul e o Lilás: Os Demais Tubos

Após o tubo de citrato, a sequência pode variar ligeiramente conforme o protocolo local, mas uma lógica comum é inserir os tubos com outros anticoagulantes. O tubo de tampa verde (heparina de lítio ou sódio) vem a seguir. A heparina ativa a antitrombina III, inibindo a trombina. É excelente para bioquímica plasmática de urgência (como lactato e amônia), pois não causa diluição significativa da amostra. Depois, pode vir o tubo de tampa cinza, com fluoreto de sódio e oxalato de potássio. O fluoreto é um inibidor enzimático que bloqueia a glicólise, preservando a glicose por mais tempo – crucial para dosagens de glicemia mesmo com atraso no processamento.

FONTE

O Fechamento com EDTA: Hematologia e Imuno-hematologia

Por fim, coletamos os tubos com EDTA (tampa lilás, rosa ou, para genética, branca). O EDTA quelante de cálcio é o padrão-ouro para a hematologia completa, pois preserva perfeitamente a morfologia celular. No entanto, é um contaminante terrível para a maioria dos outros testes. Deixá-lo por último na ordem dos tubos protege as amostras anteriores. O tubo rosa, também com EDTA, é frequentemente utilizado para bancos de sangue, por ser de plástico e mais seguro no manuseio. É vital inverter suavemente esses tubos após a coleta, garantindo a homogeneização do anticoagulante, com o sangue e evitando coágulos que inviabilizam a análise no analisador hematológico.

Erros de Coleta e Seu Impacto nos Resultados

Um pequeno deslize na coleta pode gerar um enorme efeito dominó no laboratório. Vejamos os mais frequentes:

  • Inversão da Ordem: Coletar o tubo com EDTA antes do tubo azul (citrato) é o erro clássico. Resultado: coagulograma inviável e necessidade de recolha, causando estresse ao paciente e atraso no diagnóstico.
  • Homogeneização Inadequada: Não inverter suavemente os tubos (de 5 a 8 vezes) leva à formação de microcoágulos, especialmente nos de EDTA e citrato. No analisador hematológico, isso pode causar obstruções e resultados falsamente baixos de plaquetas.
  • Garrotear por mais de 1 minuto: Estamos falando sobre a ordem dos tubos, mas não vamos esquecer que garrotear por mais de 60 segundos pode causar hemólise e, o laboratório pode não conseguir realizar o exame.

A Integração entre Coleta e Laboratório: Um Ciclo de Qualidade

A responsabilidade pela qualidade da amostra não termina quando o tubo é rotulado. O laboratório clínico deve fornecer feedback contínuo aos coletores. Fotografias de amostras hemolisadas, lipêmicas ou coaguladas, com explicações sobre a provável causa (muitas vezes técnica de coleta), são instrumentos educativos valiosos. A ordem dos tubos é apenas um elo, ainda que vital, de uma corrente que inclui transporte adequado, tempo de centrifugação e estabilidade da amostra. Quando coleta e análise se comunicam, os níveis de recolha caem drasticamente e a confiança nos laudos dispara.

Referências Bibliográficas

  1. HOFFBRAND, A. V.; MOSS, H. Fundamentos em Hematologia de Hoffbrand. [s.l.] Artmed Editora, 2018.
  2. tubos laboratoriais – Enfermagem Florence. Disponível em: <https://enfermagemflorence.com.br/tubos-laboratoriais/2-10/>. Acesso em: 9 dez. 2025.
  3. Tipos de coleta de sangue: materiais, passo a passo e técnicas. Disponível em: <https://blog.mobimed.com.br/coleta-de-sangue/>.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima