O Guia Prático da Análise de Urina Tipo 1: Da Análise Química até a Sedimentoscopia

Tópicos do Artigo:

  1. Como Realizar a Coleta da Urina?
  2. Como Funciona a Tira Reagente?
  3. A Centrifugação da Amostra
  4. Sedimentoscopia: A Análise feita pelo Microscópio
  5. O Básico para a Interpretação
  6. O que o exame de Urina Tipo 1 não Mostra?

A análise de urina tipo 1, também conhecida como EAS (Elementos Anormais do Sedimento) ou urina tipo I, é um dos exames mais solicitados no mundo, mas seus detalhes muitas vezes permanecem um mistério para os pacientes. Neste artigo, vou desvendar, de forma clara e aplicável, cada etapa desse processo. Vou te mostrar que, por trás de cada tirinha reagente e de cada gota no microscópio, há uma história fascinante sobre a sua saúde.

Como Realizar a Coleta da Urina?

O ideal é o jato médio. Isso significa começar a urinar no vaso sanitário, interromper brevemente, coletar a parte do meio no pote e terminar no vaso. Por quê? Essa técnica minimiza a contaminação por células e bactérias da uretra e da região genital, especialmente importante para mulheres. Use sempre o frasco estéril fornecido pelo laboratório e entregue a amostra no prazo indicado (geralmente até 2 horas, se mantida em geladeira). No laboratório, o técnico inicia com o exame físico. Ele observa a cor (de amarelo-claro a âmbar), a aparência (límpida, turva) e até o odor. Uma urina muito turva pode indicar a presença de cristais, células ou bactérias, que serão investigadas mais tarde.

Como Funciona a Tira Reagente?

Essa famosa tirinha colorida é mergulhada na amostra por alguns segundos. Cada quadradinho contém reagentes químicos específicos que reagem com substâncias na urina. Após o tempo exato (siga a orientação do fabricante), a cor de cada quadrado é comparada com uma tabela da embalagem. É aqui que são rastreados indicadores cruciais: pH (acidez), densidadeglicose (açúcar), proteínassangue, leucócitos (células de defesa)nitrito (produzido por algumas bactérias), cetonas e bilirrubina. Um ponto que muitos não sabem: a leitura deve ser feita sob iluminação adequada e por um profissional treinado, pois nuances de cor fazem diferença. Um resultado positivo para nitrito, combinado com leucócitos, é um forte indício de infecção urinária. Já a presença de glicose pode ser um alerta para investigar diabetes. Esta etapa do exame químico é rápida, mas riquíssima em informações de triagem.

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A Centrifugação da Amostra

Uma porção da urina é colocada em um tubo e girada em alta velocidade em uma centrífuga. A força centrífuga separa os componentes: os elementos mais densos (células, cristais, cilindros) vão para o fundo, formando o sedimento. A parte líquida que fica sobre ele é chamada de sobrenadante, que é cuidadosamente desprezada. Esse processo de centrifugação é fundamental para concentrar os elementos que queremos examinar. Sem ele, poderíamos passar despercebidos por achados importantes, especialmente se estiverem em pequena quantidade. O sobrenadante removido, agora, dá lugar à etapa que muitos consideram a mais reveladora de todas: a sedimentoscopia.

Sedimentoscopia: A Análise feita pelo Microscópio

Após a centrifugação, despreze a amostra até sobrar 1mL, tomando cuidado para não derramar e perder a amostra. Homogenize o sedimento antes de colocá-lo na lâmina. Aplique uma gota da amostra sob uma lâmina e cubra com uma lamínula. Agora, com muita paciência e olho clínico, varremos a lâmina identificando e contando elementos. Procuramos por: hemácias (glóbulos vermelhos – sinal de sangramento), leucócitos (glóbulos brancos – sinal de inflamação/infecção), células epiteliais (descamação natural do trato urinário)cilindros (moldes formados nos túbulos renais, indicativos de doença renal), cristais (como os de oxalato de cálcio, que podem formar cálculos renais) e bactérias ou leveduras. A contagem é geralmente feita por campo de maior aumento. Um exemplo prático: encontrar mais de 5 leucócitos por campo em uma mulher com queixa de ardência é um dado fortíssimo, complementando o exame químico da tira.

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O Básico para a Interpretação

Um resultado confiável nunca se baseia em uma única etapa isolada. A força da análise de urina tipo 1 está na correlação. Vamos supor que a tira reagente mostre sangue positivo. Isso sozinho é um alerta. Mas é na sedimentoscopia que descobrimos o “porquê”: se há hemácias intactas (sugerindo sangramento em vias baixas) ou dismórficas (sugerindo origem renal). Outro exemplo: a urina pode estar turva no exame físico. A tira reagente pode ser negativa para leucócitos, mas a sedimentoscopia revelar uma infinidade de cristais de fosfato amorfo. A turvação, então, é explicada pelos cristais, e não por uma infecção. Sem a análise do sedimento após a centrifugação, poderíamos ter uma interpretação errada. O profissional de laboratório é um detetive que cruza as pistas do exame físico, do químico e do microscópico para chegar a um laudo coerente.

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O que o exame de Urina Tipo 1 não Mostra?

É crucial entender que a análise de urina tipo 1 é um excelente exame de triagem e acompanhamento, mas não é definitivo para diagnósticos complexos. Ele pode indicar que “algo não está certo”, mas frequentemente não aponta a causa exata. Por exemplo, a presença de proteínas na tira reagente (proteinúria) é um sinal de alerta importante para a saúde dos rins, mas não diz se é um problema temporário ou uma doença glomerular crônica. Da mesma forma, a sedimentoscopia pode mostrar bactérias, mas não identifica qual espécie ou qual antibiótico é eficaz (para isso, faz-se a urocultura). Portanto, veja o resultado como um capítulo inicial de uma história. Se houver anormalidades significativas, seu médico irá conectá-las aos seus sintomas e, possivelmente, solicitar exames complementares, como a urocultura, exames de sangue ou até uma ultrassonografia.

Referências Bibliográficas:

  1. GUYTON, A. C.; HALL, J. E. Tratado de fisiología médica. 14. ed. [s.l.] Barcelona Elsevier España D.L, 2021.
  2. Exame de urina: Saiba tudo sobre ele. Disponível em: <https://www.laboratoriosilveira.com/exame-de-urina-saiba-tudo-sobre-ele/>.
  3. ‌DINES, C. Imagens de Microscopia de Urinálise. Disponível em: <https://biomedicinafacil.blogspot.com/2008/02/imagens-de-microscopia-de-urinlise.html>.

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