Tópicos do Artigo
- Introdução
- Autoimunidade
- Reações Contra Microrganismos
- Reações Contra Antígenos Ambientais
- Tipos de Hipersensibilidade
- Hipersensibilidade do Tipo 1 (ou imediata)
- Hipersensibilidade do Tipo II
- Hipersensibilidade do Tipo III
- Hipersensibilidade do Tipo IV
- Doenças Causadas Por Anticorpos
- Opsonização e Fagocitose
- inflamação
- Funções Celulares Anormais
- Doenças Causadas por Linfócitos T
- Doenças Causadas por Inflamação Mediadas por Citocina
- Hipersensibilidade do Tipo Tardio
Introdução
O sistema imunológico adaptativo desempenha um papel crucial na proteção do organismo contra infecções causadas por microrganismos. No entanto, as respostas imunológicas podem, em alguns casos, levar a danos nos tecidos e ao desenvolvimento de doenças. Esses distúrbios, decorrentes de reações imunes inadequadas, são denominados hipersensibilidades. Três principais fatores estão associados ao surgimento dessas condições:
- Autoimunidade: ocorre quando o sistema imunológico ataca antígenos do próprio organismo. Isso acontece devido a falhas nos mecanismos de autotolerância, que normalmente impedem que as células de defesa reajam contra estruturas do próprio corpo, resultando em danos a células e tecidos saudáveis.
- Reações Contra Microrganismos: embora o sistema imunológico seja essencial para combater infecções, respostas excessivas ou prolongadas contra antígenos microbianos podem levar a danos teciduais. Isso pode ocorrer quando a reação é desproporcional ou quando os microrganismos persistem de forma anormal no organismo.
- Reações Contra Antígenos Ambientais: o sistema imunológico pode reagir de maneira exagerada a substâncias presentes no ambiente, como pólen, ácaros ou certos alimentos, desencadeando respostas que causam danos ao organismo.
Em todas essas situações, os mecanismos responsáveis pela lesão tecidual são semelhantes aos observados durante a eliminação de agentes infecciosos. Esses mecanismos envolvem tanto a imunidade inata quanto a adaptativa, com a participação de células como fagócitos, linfócitos T, mastócitos e a produção de anticorpos, além da ativação de mediadores inflamatórios. O principal problema na hipersensibilidade é a falta de regulação adequada da resposta imune, o que resulta em danos ao hospedeiro.

Tipos de Hipersensibilidade
As hipersensibilidades são reações imunológicas exacerbadas que podem causar danos celulares e teciduais ao organismo. Essas respostas são geralmente classificadas de acordo com o tipo de mecanismo imune envolvido e os efeitos causados pelos mecanismos efetores. A seguir, serão explorados os principais tipos de hipersensibilidade e seus respectivos mecanismos de ação.
- Hipersensibilidade do Tipo I (ou imediata): desencadeada por anticorpos do tipo IgE direcionados contra antígenos presentes no ambiente, essa forma de hipersensibilidade é a mais comum. Conhecida como hipersensibilidade imediata ou, popularmente, como alergia ou atopia, essa condição surge a partir da ativação de linfócitos T auxiliares que produzem citocinas como IL-4, IL-5 e IL-13, também chamados de células TH2. Essas células T estimulam a síntese de anticorpos IgE e promovem processos inflamatórios, resultando em reações alérgicas características.
- Hipersensibilidade do Tipo II: são provocadas por anticorpos das classes IgG e IgM, capazes de causar danos aos tecidos através da ativação do sistema complemento, que recruta células inflamatórias e interfere no funcionamento normal das células. Parte desses anticorpos é específica para antígenos presentes em certas células ou na matriz extracelular, podendo ser encontrados ligados a essas estruturas ou circulando livremente no sangue.
- Hipersensibilidade do Tipo III: são resultantes da formação de imunocomplexos, que são posteriormente depositados em diversos tecidos, especialmente nas paredes dos vasos sanguíneos, provocando danos e inflamação localizada.
- Hipersensibilidade do Tipo IV: são desencadeadas pela ação dos linfócitos T, que podem induzir inflamação ou destruir diretamente as células-alvo. O processo ocorre principalmente pela ativação de linfócitos T auxiliares CD4+, que liberam citocinas capazes de promover a inflamação e ativar células do sistema imune, como neutrófilos e macrófagos. Além disso, essas células T auxiliares estimulam a produção de anticorpos que causam danos aos tecidos e intensificam a resposta inflamatória. Em algumas doenças, os linfócitos T citotóxicos (CTLs) também desempenham um papel importante, contribuindo para a lesão tecidual.
Doenças Causadas Por Anticorpos
As doenças mediadas por anticorpos ocorrem quando anticorpos se ligam a antígenos presentes em células específicas ou em tecidos extracelulares, ou ainda quando complexos antígeno-anticorpo são formados na corrente sanguínea e se depositam nas paredes dos vasos. Além disso, existem condições em que os anticorpos atacam células fixas ou antígenos presentes nos tecidos, como por exemplo:
- Opsonização e Fagocitose: ocorrem quando anticorpos se ligam a antígenos presentes na superfície das células, o que pode levar à opsonização direta ou à ativação do sistema complemento, gerando proteínas que também promovem a opsonização. Essas células marcadas são então reconhecidas e destruídas por fagócitos, que possuem receptores para a porção Fc dos anticorpos IgG e para as proteínas do complemento. Esse mecanismo está presente em condições como a anemia hemolítica autoimune, a púrpura trombocitopênica autoimune e em casos de hemólise decorrentes de transfusões sanguíneas.
- Inflamação: os anticorpos que se depositam nos tecidos atraem neutrófilos e macrófagos, que se ligam a esses anticorpos ou às proteínas do complemento por meio de receptores específicos, como os receptores Fc de IgG e os receptores do complemento. Essas células imunes são ativadas pela sinalização desses receptores (especialmente os receptores Fc) e liberam substâncias como enzimas lisossomais e espécies reativas de oxigênio, que causam danos aos tecidos. Esse mecanismo está presente em condições como a glomerulonefrite mediada por anticorpos.
- Funções Celulares Anormais: quando anticorpos se ligam a receptores celulares ou proteínas funcionais, eles podem interferir diretamente em suas atividades, causando doenças sem necessariamente desencadear inflamação ou lesão tecidual. Esse tipo de mecanismo está presente em condições como a miastenia grave e a anemia perniciosa, nas quais a função normal de receptores ou proteínas é prejudicada pela ação dos anticorpos.

Doenças Causadas por Linfócitos T
Os linfócitos T causam danos aos tecidos ao induzir processos inflamatórios ou ao destruir diretamente as células-alvo. As reações inflamatórias são principalmente desencadeadas por células T CD4+ das subpopulações TH1 e TH17, que liberam citocinas responsáveis por recrutar e ativar leucócitos. Além disso, a lesão tecidual mediada por linfócitos T pode estar associada a respostas imunes intensas contra microrganismos persistentes, especialmente aqueles intracelulares, que resistem à eliminação por fagócitos e anticorpos.
A suspeita de que as células T desempenham um papel importante em determinadas doenças imunológicas surge, em grande parte, da identificação dessas células em lesões teciduais e da detecção de níveis elevados de citocinas no sangue ou nos tecidos, que podem ser produzidas por linfócitos T.
Doenças Causadas por Inflamação Mediadas por Citocina
Na inflamação mediada pelo sistema imunológico, as células TH1 e TH17 liberam citocinas que atraem e ativam leucócitos. A IL-17, produzida pelas células TH17, estimula o recrutamento de neutrófilos; o interferon-gama (IFN-g), produzido pelas células TH1, ativa macrófagos; e o fator de necrose tumoral (TNF) e as quimiocinas, secretados por linfócitos T e outras células, participam da atração e ativação de diversos tipos de leucócitos.
O dano tecidual ocorre devido à ação de substâncias liberadas por neutrófilos e macrófagos recrutados e ativados, como enzimas lisossomais, espécies reativas de oxigênio, óxido nítrico e citocinas pró-inflamatórias. As células endoteliais vasculares nas áreas afetadas podem apresentar níveis elevados de proteínas de superfície, como moléculas de adesão e moléculas do complexo principal de histocompatibilidade (MHC) classe II, reguladas por citocinas. A inflamação associada a doenças mediadas por células T geralmente é crônica, mas episódios de inflamação aguda podem ocorrer em meio a um quadro de inflamação prolongada.

Hipersensibilidade do Tipo Tardio
A hipersensibilidade do tipo tardio (DTH) é uma reação inflamatória prejudicial desencadeada por citocinas liberadas a partir da ativação de células T, principalmente as células T CD4+. Essa reação é denominada “tardia” porque geralmente leva de 24 a 48 horas para se manifestar após a exposição ao antígeno, diferindo das reações de hipersensibilidade imediata (alérgicas), que ocorrem em minutos.
Reações crônicas de DTH podem surgir quando uma resposta TH1 a uma infecção ativa macrófagos, mas não consegue eliminar os microrganismos fagocitados. Se os microrganismos estiverem concentrados em uma área específica, a reação pode formar nódulos de tecido inflamatório, conhecidos como granulomas. A DTH crônica, como observada na inflamação granulomatosa, resulta da sinalização prolongada de citocinas. Nessas situações, células T e macrófagos ativados continuam a produzir citocinas e fatores de crescimento que amplificam a resposta dessas células e modificam progressivamente o ambiente tecidual local. Isso gera um ciclo de lesão tecidual e inflamação crônica, seguido pela substituição do tecido por tecido conjuntivo (fibrose).
Macrófagos ativados podem se fundir, formando células gigantes multinucleadas. A inflamação granulomatosa é uma tentativa de isolar a infecção, mas também causa danos significativos ao tecido e comprometimento funcional. Esse tipo de inflamação é característico de infecções por microrganismos persistentes, como M. tuberculosis e certos fungos. Grande parte das dificuldades respiratórias associadas à tuberculose ou a infecções fúngicas crônicas do pulmão resulta da substituição do tecido pulmonar saudável por tecido fibroso, e não diretamente da ação dos microrganismos.
Referências Bibliográficas
- ABBAS, A. K.; LICHTMAN, A. H. Cellular and molecular immunology. 9. ed. Philadelphia, Penns.: Saunders, 2005.
- FORTES, J. Mecanismo da Inflamação. Disponível em: https://enfermagemparaamar.blogspot.com/2013/05/mecanismo-da-inflamacao.html. Acesso em: 10 mar. 2025.
- Immunoregulation. Disponível em: https://microbiologybook.org/Portuguese/immuno-port-chapter13.htm. Acesso em: 10 mar. 2025.
- MENEZES, E. ALERGIA E IMUNOLOGIA – Dra Elisângela Menezes. Disponível em: https://www.draelisangelamenezes.com.br/especialidade/alergia-e-imunologia. Acesso em: [inserir data de acesso].