Fisiologia do Trato Gastrointestinal: Secreções e Enzimas Envolvidas na Digestão dos Alimentos

Tópicos do Artigo:

  1. Introdução
  2. Tipos de Glândulas do Trato Digestivo
    • Ativação das Glândulas
  3. Secreção da Saliva
    • Secreção de Íons
    • Secreção Gástrica
  4. Secreção de Pepsinogênio
  5. Secreção de Ácido Clorídrico
  6. Secreção Pancreática
    • Enzimas Secretadas pelo Pâncreas
  7. Secreção da Bile pelo Fígado
    • Função dos Sais Biliares
  8. Secreção de Muco no Intestino Delgado
    • Enzimas Digestivas
  9. Secreção de Sucos Digestivos no Intestino Delgado
  10. Secreção de Muco pelo Intestino Grosso

Introdução

No sistema digestivo, as glândulas responsáveis pela secreção cumprem dois papéis essenciais: produzem enzimas digestivas em quase toda a extensão do tubo digestivo, desde a cavidade oral até a porção final do íleo; e as glândulas mucosas, presentes da boca até o ânus, liberam muco para lubrificar e proteger todas as regiões do trato digestivo. A maior parte dessas secreções é estimulada pela presença de alimentos no sistema, e o volume liberado em cada segmento geralmente corresponde ao necessário para uma digestão eficiente. Além disso, em certas áreas do trato digestivo, os tipos de enzimas e outros componentes das secreções podem variar dependendo dos alimentos ingeridos.

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Tipos de Glândulas do Trato Digestivo

Diversas glândulas especializadas produzem as secreções necessárias para o funcionamento do sistema digestivo. Inicialmente, observa-se a presença de inúmeras glândulas mucosas unicelulares distribuídas pelo epitélio de grande parte do trato digestivo. Conhecidas como células mucosas ou células caliciformes (devido ao seu formato característico), elas reagem a estímulos locais, liberando muco diretamente na superfície epitelial. Essa substância atua como lubrificante e protege o tecido contra danos mecânicos ou ação de sucos digestivos.  

Além disso, em diversas regiões do trato digestivo, existem pequenas depressões formadas por dobras do epitélio em direção à submucosa. No intestino delgado, essas estruturas, denominadas criptas de Lieberkühn, são mais profundas e abrigam células com funções secretoras específicas. Outro tipo importante são as glândulas tubulares presentes no estômago e na porção superior do duodeno, responsáveis pela produção de ácido gástrico e pepsinogênio (como as glândulas oxínticas).  

Por fim, órgãos anexos, como as glândulas salivares, o pâncreas e o fígado, também contribuem com o processo digestivo, liberando substâncias que auxiliam na quebra ou emulsificação dos alimentos. Diferentemente das demais glândulas, essas estruturas localizam-se externamente ao tubo digestivo. Suas unidades secretoras, chamadas ácinos, são formadas por células especializadas que se conectam a uma rede de ductos, os quais transportam suas secreções até o interior do trato digestivo.

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Ativação das Glândulas

A ativação local do epitélio intestinal também estimula o sistema nervoso entérico presente na parede do intestino. Esse mecanismo é desencadeado por diferentes tipos de estímulos, incluindo: contato físico, exposição a substâncias químicas irritantes e expansão da parede intestinal devido ao acúmulo de conteúdo. Como resposta, os reflexos nervosos gerados promovem o aumento da produção de secreções tanto pelas células mucosas superficiais quanto pelas glândulas localizadas nas camadas mais profundas da parede intestinal.  

Secreção da Saliva

O sistema salivar é composto principalmente pelas glândulas parótidas, submandibulares e sublinguais, além de numerosas glândulas salivares menores distribuídas pela cavidade bucal. A saliva produzida por essas glândulas apresenta dois componentes proteicos essenciais: uma secreção serosa rica em ptialina (enzima α-amilase responsável pela digestão de carboidratos) e uma secreção mucosa contendo mucina, substância que atua na lubrificação e proteção dos tecidos bucais.  

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Secreção de Íons

A composição iônica da saliva apresenta características marcantes, com elevadas concentrações de potássio (K+) e bicarbonato (HCO3-), enquanto os níveis de sódio (Na+) e cloreto (Cl-) são significativamente menores quando comparados aos do plasma sanguíneo. Essa distribuição peculiar de eletrólitos pode ser compreendida ao analisar o processo de formação da secreção salivar.

Secreção Gástrica

A mucosa gástrica apresenta, além das células mucosas distribuídas por toda sua superfície, dois tipos fundamentais de glândulas tubulares: as glândulas oxínticas (ou gástricas) e as glândulas pilóricas. As glândulas oxínticas, especializadas na produção de suco gástrico, liberam ácido clorídrico, pepsinogênio, fator intrínseco e uma pequena quantidade de muco. Já as glândulas pilóricas têm como função principal secretar muco para proteger a mucosa da região pilórica contra a ação corrosiva do ácido estomacal, além de produzirem o hormônio gastrina.

Secreção de Pepsinogênio

Diferentes variantes de pepsinogênio são liberadas pelas células pépticas e mucosas das glândulas gástricas, todas com a mesma função essencial. Quando ativado em meio ácido (pH ideal entre 1,8 e 3,5), o pepsinogênio se converte em pepsina, uma enzima capaz de quebrar proteínas. No entanto, em pH superior a 5, sua atividade proteolítica é praticamente nula, e a enzina se desnatura rapidamente.  

Secreção de Ácido Clorídrico

O ácido clorídrico é produzido exclusivamente pelas células parietais das glândulas oxínticas. Sua secreção é regulada pela gastrina, um hormônio liberado pelas células G localizadas nas glândulas pilóricas, próximas à saída do estômago. Ao se misturar com os sucos gástricos, a gastrina atinge rapidamente as células ECL no corpo gástrico, induzindo a liberação de histamina. Essa substância, por sua vez, estimula diretamente as glândulas oxínticas a aumentar a produção de ácido clorídrico.  

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Secreção Pancreática

Localizado adjacente à porção inferior do estômago, o pâncreas é uma glândula de tamanho considerável com organização estrutural semelhante às glândulas salivares. Sua porção exócrina é formada por ácinos pancreáticos, responsáveis pela produção de enzimas digestivas, enquanto os ductos de diferentes calibres secretam uma solução rica em bicarbonato de sódio. Esses componentes se misturam e são transportados pelo ducto pancreático principal, que geralmente se une ao ducto colédoco antes de desembocar no duodeno através da papila duodenal (ou ampola de Vater), região circundada pelo esfíncter de Oddi.  

Além dessa função digestiva, o pâncreas possui uma importante atividade endócrina. Diferentemente das enzimas pancreáticas, a insulina é produzida por grupos celulares especializados – as ilhotas de Langerhans – que liberam esse hormônio diretamente na corrente sanguínea, atuando na regulação do metabolismo energético.  

Enzimas Secretadas pelo Pâncreas

O pâncreas produz enzimas essenciais para a digestão de diferentes nutrientes. Para a quebra de proteínas, destacam-se a tripsina (a mais abundante), a quimiotripsina e a carboxipeptidase. No processamento de carboidratos, atua a amilase pancreática, que decompõe amidos, glicogênio e outros carboidratos (com exceção da celulose) em dissacarídeos e alguns trissacarídeos. Já a digestão lipídica conta com três enzimas principais: a lipase pancreática (que transforma gorduras neutras em ácidos graxos e monoglicerídeos), a colesterol esterase (responsável por hidrolisar ésteres de colesterol) e a fosfolipase (que remove ácidos graxos de fosfolipídios).

Secreção da Bile pelo Fígado

A bile tem uma função crucial no processo de digestão e absorção de lipídios, não por conter enzimas digestivas, mas devido à ação dos ácidos biliares que realizam duas ações fundamentais: primeiro, promovem a emulsificação de grandes moléculas de gordura em partículas microscópicas, aumentando a superfície de ação para as lipases pancreáticas; segundo, facilitam a absorção dos lipídios já digeridos através da parede intestinal. Além disso, a bile atua como veículo de eliminação de substâncias residuais do organismo, incluindo principalmente a bilirrubina (derivada da degradação da hemoglobina) e o colesterol em excesso.

Função dos Sais Biliares

Os sais biliares atuam como agentes emulsionantes, reduzindo a tensão superficial das moléculas lipídicas e facilitando sua fragmentação em partículas microscópicas durante o processo digestivo. Essa capacidade detergente permite que as gorduras sejam decompostas em glóbulos diminutos, preparando-as para a ação enzimática. Além disso, esses compostos são fundamentais para o transporte e assimilação intestinal de nutrientes lipídicos, incluindo ácidos graxos, monoglicerídeos, colesterol e outros lipídios essenciais ao metabolismo.

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Secreção de Muco no Intestino Delgado

Na porção inicial do duodeno, principalmente entre a abertura pilórica do estômago e a desembocadura do ducto pancreático (papila de Vater), encontram-se numerosas glândulas mucosas alcalinas conhecidas como glândulas de Brunner. Estas estruturas produzem abundante muco rico em bicarbonato quando estimuladas por: contato mecânico ou irritação da mucosa duodenal; ativação do nervo vago, que coordena sua secreção com a produção gástrica; e ação de hormônios digestivos, particularmente a secretina.

Este muco exerce dupla função protetora: forma uma barreira física contra a ação corrosiva do suco gástrico ácido e, graças à sua elevada concentração de bicarbonato, neutraliza o ácido clorídrico que chega do estômago, complementando a ação alcalinizante das secreções pancreáticas e biliares.

Enzimas Digestivas

As secreções do intestino delgado, quando isoladas de componentes celulares, apresentam baixa atividade enzimática. A digestão final dos nutrientes ocorre principalmente por meio de enzimas presentes nos enterócitos que revestem as vilosidades intestinais, atuando durante o processo de absorção. Essas enzimas incluem: diversas peptidases que hidrolisam peptídeos menores em aminoácidos individuais; um conjunto de dissacaridases (sacarase, maltase, isomaltase e lactase) responsáveis pela conversão de dissacarídeos em monossacarídeos absorvíveis; e uma forma de lipase intestinal que contribui para a decomposição de triglicerídeos em glicerol e ácidos graxos.

Secreção de Sucos Digestivos no Intestino Delgado

O intestino delgado apresenta inúmeras depressões microscópicas conhecidas como criptas de Lieberkühn, distribuídas por toda sua extensão. Essas estruturas e as vilosidades adjacentes são revestidas por um tecido epitelial contendo dois tipos celulares principais: células caliciformes, responsáveis pela produção de muco protetor e lubrificante, e enterócitos, que apresentam funções distintas conforme sua localização. Nas criptas, os enterócitos liberam significativas quantidades de água e eletrólitos, enquanto nas vilosidades atuam absorvendo esses mesmos componentes juntamente com os nutrientes resultantes do processo digestivo.

Secreção de Muco pelo Intestino Grosso

O intestino grosso apresenta uma estrutura mucosa semelhante à do intestino delgado, com numerosas criptas de Lieberkühn, porém sem a presença de vilosidades. Sua superfície epitelial possui capacidade enzimática digestiva limitada, sendo composta principalmente por células especializadas na produção de muco. Esse muco contém bicarbonato (HCO3-), liberado por células epiteliais não mucígenas. A regulação da secreção mucosa ocorre principalmente através de estímulos mecânicos diretos na superfície intestinal e por meio de reflexos nervosos locais que atuam sobre as células secretoras localizadas nas criptas.

Referências Bibliográficas

  1. HALL, J. E. Guyton & Hall Physiology Review. London, United States: Saunders, 2015.
  2. TOP BLOGS. La Digestión en el intestino delgado. Disponível em: https://webanatomia.blogspot.com/2019/11/la-digestion-en-el-intestino-delgado.html. Acesso em: 5 abr. 2025.
  3. YUMPU.COM. Criptas de Lieberkuhn cri. Disponível em: https://www.yumpu.com/es/document/read/5031627/anatomia-funcional-y-fisiologica-del-intestino-/12. Acesso em: 5 abr. 2025.
  4. Glândulas salivares: o que são, qual sua função e problemas comuns. Disponível em: https://www.tuasaude.com/glandulas-salivares/.
  5. PROFESSOR BRUNO DAMIÃO. Fisiologia Gastrointestinal II. Disponível em: https://plantandociencia.blogspot.com/2019/05/fisiologia-gastrointestinal-ii.html. Acesso em: 5 abr. 2025.
  6. BILE. Hive Mind Medicine. Disponível em: https://hmmpdx.com/hive-mind-blog/bile-far-ranging-effects-of-health-and-prevention-of-illness. Acesso em: 5 abr. 2025.

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